viernes, 8 de enero de 2010

BNDES PARTE PARA O EXTERIOR

BNDES quer financiar direto no exterior
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Silvia Costanti / Valor
Maria Isabel, do BNDES: "Ideia é simplificar a operação, tendo mais agilidade e tratamento tributário mais simples"
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) prepara-se para fazer uma licitação para contratar uma consultoria internacional com o objetivo de assessorá-lo no plano de expandir sua atuação no exterior neste ano. Depois de estruturar no ano passado a sua área internacional, munindo-a de um escritório em Montevidéu e uma subsidiária em Londres, a BNDES Limited, o banco quer criar uma estrutura para financiar diretamente no exterior empresas brasileiras que estão se internacionalizando, disse a superintendente da área internacional do banco, Maria Isabel Aboim.
Nos últimos quatro anos, o BNDES criou uma linha de internacionalização que desembolsou R$ 4,5 bilhões. A expectativa é que esse valor aumente substancialmente. No momento, há mais de dez empresas solicitando financiamento para esse tipo de operação. No início da linha, o banco fez poucas operações. O grande destaque do período 2005-2009 foi o grupo JBS Friboi, hoje com um lugar destacado no ranking das multinacionais do setor de carnes.
O JBS foi um dos primeiros a contar com o apoio do BNDES, que teve de mudar seu estatuto para liberar recursos para garantir a presença das empresas brasileiras no cenário externo, informa Maria Isabel. "Houve mudança no estatuto do banco para que isso pudesse ser feito. Até o início da década, o banco tinha restrições e exigia que as empresas tivessem uma contrapartida de performance de exportações para obter recursos de internacionalização", diz a executiva.
Em 2005 ocorreram as primeiras operações de internacionalização - a JBS da Argentina e outras duas empresas menores. Em 2008, o planejamento estratégico do banco considerou prioritário o fortalecimento da presença das empresas brasileiras no mundo. Em 2010, a tendência é esse número crescer. "Temos de ter armas para fazer isso. Esta é a razão principal deste avanço que o banco pretende fazer lá fora", afirma Maria Isabel.
Para ela, a grande questão a ser resolvida para o BNDES consolidar seu braço internacional é como emprestar dinheiro diretamente para as empresas no exterior sem passar pelo Brasil. "Não faz sentido você ter de ir e voltar com recursos. A ideia do banco é simplificar essa operação, financiar as empresas diretamente do exterior, tendo mais agilidade e tratamento tributário mais simples, já que para internalizar os recursos das captações é preciso pagar tributo à Receita Federal."
A ideia do banco é dar poder à subsidiária londrina BNDES Limited para captar e emprestar recursos diretamente do exterior para as empresas. "O que o BNDES pretende é apoiar as empresas lá fora com novas fontes de recursos não tradicionais domésticas que virão de captações feitas no mercado global pela subsidiária. Esses valores não serão internalizados no Brasil, mas ficarão à disposição das empresas lá fora", informa a executiva.
Bancos de desenvolvimento de países como China, Índia e Coreia do Sul já contam com estruturas constituídas para apoiar as empresas de seus respectivos países que estão se globalizando. "Nós não estamos atuando de forma incomun para bancos de desenvolvimento, inclusive muitos com filiais ou subsidiárias operando com crédito, que atuam sediadas em Londres, como é o caso da Anafinsa, do México. A nossa (subsidiária londrina) ainda não atua com crédito. Queremos chegar a esse ponto de poder operar com crédito, também fazendo empréstimos lá fora para as empresas", argumenta Leonardo Botelho Ferreira, chefe do Departamento de Internacionalização do BNDES.
Inaugurada em novembro do ano passado, a BNDES Limited atua hoje como um ponto importante de contatos e de observação do mercado global. Até o momento, a subsidiária londrina, que por enquanto não pode exercer funções bancárias, tem feito contatos com empresas e centros tecnológicos buscando fazer uma ponte entre esses centros internacionais e empresas brasileiras, principalmente para projetos na área de inovação, relatou Maria Isabel. A subsidiária pode também promover associações e parcerias de empresas brasileiras em diversas áreas e contatos com investidores internacionais para futuros negócios.
Além do apoio à internacionalização das empresas o banco vai continuar atuando através da área internacional na captação de recursos, seja em forma de bônus, seja através de agências multilaterais, pois na visão de Maria Isabel "é importante o banco diversificar fontes". Para ela, o fato de o BNDES hoje estar ancorando captação em recursos do Tesouro não significa que abandone outras fontes de recursos. "Temos de manter uma diversificação estratégica de fontes", defende a executiva.
O BNDES acabou de captar US$ 1 bilhão através de colocação de bônus de sua titularidade no mercado global. Além dessa operação, a instituição se prepara para assinar um contrato de US$ 3 bilhões com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) num programa de apoio a micro, pequenas e médias empresas. Do total, pelo menos US$ 1 bilhão entrarão nos cofres do BNDES em 2010, mais US$ 60 milhões virão da agência multilateral norueguesa NIB e quase US$ 300 milhões do japonês Japan Bank for International Cooperation (JBIC), disse Paulo Roberto de Oliveira Araújo, chefe do Departamento de Captação de organismos multilaterais.

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